Tuesday, June 12, 2007

Morte Prematura






Fatores relacionados ao uso prescrito e uso indevido de sedativos nos Estados Unidos -



Parte I Sedative use and Misuse in the United States Renee D. GoodwinDeborah S. HasinAddiction, 97, 555-562; 2002 Este estudo teve como principal objetivo determinar a prevalência e fatores associados ao uso prescrito e uso indevido de substâncias sedativas na população americana em geral. No Brasil, ainda não temos um estudo que demonstre estas correlações.



Introdução
A prescrição de drogas de abuso está em franco crescimento nos Estados Unidos. Em 1999, 3,5% dos adultos de 18 a 25 anos referiram o uso não médico de pelo menos um medicamento psicotrópico comparado a somente 1,6% em 1994.Os sedativos constituem a classe de medicamentos mais prescrita nos Estados Unidos.


A prevalência do abuso e dependência de sedativos foi estimada em 1,2% em 1991 e trabalhos realizados na Europa demonstraram importante associação entre o uso de sedativos hipnóticos e taxas consideráveis de morbidade e mortalidade prematura. Apesar destas estimativas, pouco se sabe sobre os fatores preditores, riscos e complicações associadas ao uso prescrito e inadequado de sedativos na população norte americana. Já é conhecido que o risco de abuso e problemas relacionados ao uso clínico de sedativos é maior do que outros fármacos clinicamente prescritos.


Em ambientes de tratamento psiquiátrico, os transtornos pelo uso de substâncias são vistos com indicadores de prognóstico ruim e também comprometem a melhora de um transtorno mental quando este está presente em co-ocorrência com um transtorno pelo uso de substância. Muitos estudos mostraram também que pacientes psiquiátricos com transtornos ansiosos, de personalidade e pelo uso de substâncias apresentam um risco maior para abuso de sedativos.


Dados de estudos do início da década de 90 sugeriam que o abuso de sedativos refletia em algumas situações uma tentativa de pacientes psiquiátricos não internados auto-medicarem seus sintomas depressivos. Outros mostraram que o uso disseminado de sedativos poderia estar associado ao início de quadros depressivos.O abuso de sedativos também foi notado em indivíduos com transtorno afetivo bipolar e associado a uma resposta pobre ao tratamento psicofarmacológico.
Uma associação entre suicídio e uso/ abuso de sedativos também foi bastante documentado em amostras clínicas e epidemiológicas. Além disto, sugeriu-se que o abuso de sedativos pode contribuir para a relação entre ataques de pânico e tentativas suicidas. Dadas as complicações e riscos associados ao uso de sedativos em populações clínicas, os autores deste estudo tentaram evidenciar estas mesmas associações em amostras populacionais.Um estudo realizado a partir de uma amostra populacional demonstrou, recentemente, uma relação entre maior uso e abuso de sedativos em indivíduos que cometeram o suicídio. Estudos feitos em gêmeos sugeriram que o abuso ou dependência de sedativos parece ter um importante componente genético.Nenhum estudo, segundo os autores, investigou fatores psicopatológicos e morbidades sociais associadas ao uso inadequado de sedativos nos Estados Unidos.


De acordo com Goodwin e Hasin, os objetivos deste estudo foram três:


1. Determinar a prevalência do uso de sedativos, uso não prescrito e dependência destes em americanos.


2. Determinar diferenças na morbidade psiquiátrica, potencial suicida e psicopatologia familiar entre os que referiram o uso não prescrito de sedativos comparado aos que faziam uso prescrito desta substância e aqueles que se chamavam dependentes da substância.


3. Identificar os fatores correlacionados ao uso não prescrito e a dependência de sedativos na população geral. A hipótese defendida pelos autores é de que o uso indevido de sedativos seria associado a maiores índices de psicopatologia e comportamento suicida na comunidade.


Método A mostra os dados deste estudo foram obtidos a partir de uma amostra populacional de um importante estudo realizado nos Estados Unidos chamado National Comorbidity Survey. Uma amostra representativa da população americana, ou seja, de 8098 adultos de 15 a 54 anos foi analisada a fim de se investigar os fatores associados ao uso de sedativos, uso não prescrito e dependência desta substância. Diagnóstico Os diagnósticos psiquiátricos foram obtidos a partir do CIDI (Composite International Diagnosis Interview) que é uma entrevista estruturada elaborada pela Organização Mundial de Saúde.
Resultados
Características sócio-demográficas e de prevalência A prevalência ao longo da vida para a dependência de sedativos foi de 0,5%, o uso não prescrito foi de 7,1% e o uso prescrito de sedativos foi de 17%. Os sujeitos que referiram o uso não prescrito eram significativamente mais jovens e do sexo masculino do que aqueles que faziam uso prescrito ou que se diziam dependentes de sedativos. Os indivíduos que referiram ser "dependente de sedativos" foram mais do sexo feminino, mais velhos, solteiros e com baixo nível educacional comparado ao uso não prescrito de sedativos. Morbidade Psiquiátrica Parece haver uma relação direta entre os níveis de uso de sedativos e nível psicopatológico. Com exceção da dependência do álcool e do transtorno de personalidade anti-social, a chance para a ocorrência dos transtornos mentais aumentou progressivamente a partir dos que não usavam sedativos, para os que usavam este medicamento prescrito, os que utilizavam sedativos não prescritos e por fim para aqueles que eram dependentes de sedativos. O mesmo padrão foi visto para abuso e dependência do álcool, com exceção de que o índice de indivíduos que se achavam dependentes de sedativos eram menos abusadores/dependentes do álcool do que aqueles que utilizavam sedativos indiscriminadamente sem prescrição médica. Psicopatologia Familiar Indivíduos que receberam medicações sedativas prescritas foram significativamente mais predispostos a ter um dos pais com transtorno depressivo maior, transtorno de ansiedade generalizada, ou que abandonou a família. Aqueles que faziam uso de sedativos sem prescrição médica tiveram os maiores índices para cada tipo de psicopatologia familiar avaliada. Aqueles indivíduos que se disseram dependentes de sedativos apresentaram o maior índice de casos de tentativa de suicídio e abandono pelos pais. Ideação Suicida e comportamento suicida Os dados mostraram uma correlação diretamente proporcional para uso indevido de sedativos e ideação suicida, planejamento suicida e tentativa de suicídio. Fatores relacionados ao uso prescrito e uso indevido de sedativos Uso não prescrito de sedativos X não uso O uso não prescrito de sedativos esteve associado a maior nível educacional, ser do sexo masculino, depressão maior, agorafobia, dependência do álcool e ideação suicida quando comparado aos indivíduos que não faziam uso de sedativos.

Dependência de sedativos X uso não prescrito de sedativos A dependência de sedativos pareceu estar mais relacionada a ter menor nível educacional, ser mais velho e ter um familiar que fazia uso abusivo de medicamentos prescritos.
Discussão O uso de sedativos não prescritos e a dependência de sedativos são comuns nos Estados Unidos. Os dados deste estudo sugerem que aproximadamente 1 a cada 10 americanos fazem uso de sedativos sem prescrição médica ou se tornam dependentes sendo que estes indivíduos apresentam maiores níveis de psicopatologia, ideação suicida e tentativas de suicídio. Parece haver uma relação direta e linear entre o nível de uso de sedativos e o nível psicopatológico, ideação e comportamento suicida. O mecanismo de associação entre o uso indevido de sedativos e os transtornos mentais comórbidos é desconhecido. Pode ser que a depressão e a ansiedade levem ao uso de sedativos, inicialmente prescrito, mas o contrário também é considerado. Estudos como este precisam ser realizados no Brasil a fim de que possamos determinar a prevalência e o impacto do uso de sedativos, prescritos ou não, em nossa população.


1 comment:

Maria Lúcia Lacanna said...

Caro Pastor,
Os dados acima demonstram como é delicada a situação do paciente que faz uso de psicofármacos,quer por automedicação quer por prescrição, portanto é muito importante o acompanhamento do médico assistente de forma efetiva junto ao paciente.Boa semana