Friday, October 30, 2009

Liberação da Maconha



Hoje eu li um post interessante lá no blog Tapa na cara sobre a marcha pela liberação da maconha, que ocorreu na praia de Copacabana no Rio neste domingo. Acabei tendo que emitir minha opnião.

Bem, eu não sou contra quem fuma maconha. Tenho muitos amigos que fumam. Amigos que defendem a liberação e tal. Mas tenho que confessar que eu não sou a favor da maconha. Liberara droga ou não é algo que todo mundo quer discutir. E muitos fazem isso comparando a maconha ao cigarro.
O problema é mais complicado do que parece à primeira vista. A maconha afeta o cérebro do usuário de maneira diferente do que faz o cigarro comum de tabaco.
Enquanto o cigarro (nicotina) é um estimulante, a maconha é depressor do sistema nervoso. Por isso quem fuma fica meio lesado.
A utilização da maconha também pode desencadear surtos psicóticos em pessoas borderline, que são pessoas aparentemente normais que estão perto da linha da loucura. VocÊ nunca sabe se está neste time. O único jeito de descobrir é quando você tem o
primeiro surto, que pode ser desencadeado por medicamentos, febre, situações traumáticas e de forte estress, além do uso de drogas.

E uma vez desencadeado o primeiro surto psicótico, não há retorno para a condição inicial, e sim tratamento eterno.

Mas o cigarro e a bebida não são drogas?

O cigarro e o álcool só são drogas lícitas (liberadas) porque o poder público daqui e da maciça maioria dos países não conseguiu coibir o uso, uma vez que álcool e tabaco viciam muito mais rápido que a maconha.
Por exemplo, no Talibã. Os fanáticos levam a sério as proibições de Maomé e estão fuzilando os fumantes. Atualmente o numero de execuções passou a ser feito nos estádios tamanha a quantidade de fumantes. E nem assim eles largam o cigarro. Ou seja, o maluco aceita tomar teco de fuzil Ak47 a largar o cigarro. Haja vício.
Falar em proibição da maconha alegando a questão do vício é uma piada inocente e até cretina, uma vez que até a Coca-Cola usa alcalóides derivados da Coca para viciar os usuários. Um estudo recente nos Estados Unidos mostrou que 10% dos que experimentam maconha se tornam dependentes, 15% dos que experimentam álcool se tornam dependentes e 17% dos que experimentam cocaína se tornam dependentes. E 70% dos que dão uma tragadinha num Free ou Hollywood vão virar dependentes, alimentando os
cofres da Souza Cruz pro resto de sua existência.
Assim, tudo vicia. O problema com a maconha está para além do vício.
Se proibida, uma vez que ela é um dos elementos que alimenta o narcotráfico, liberada ela poderá alimentar ainda mais.
Imaginar que liberando a droga os traficantes irão sumir no ar é um delírio inocente. Eu gostaria que fosse mesmo assim, mas a verdade é que os traficantes continuarão acastelados, 90% nos morros e os figurões da droga nas mansões se alimentando do dinheiro da classe média e baixa por outras vias.

Está claro na história que quando uma droga ilícita é liberada, novas drogas ainda mais potentes assumem o posto da droga anterior. O viciado acostumado à ilegalidade acaba indo para a nova droga e o ciclo continua. Isso é assim porque há um prazer oculto no consumo da droga. O barato é apenas parte do sucesso destes produtos que afetam a mente das pessoas. O perigo, o senso de transgressão, o prazer do risco e a sensação de perverter o sistema, estar do outro lado da moeda e sair impune, é muito forte.
Muitos usuários usam a droga como uma alternativa de auto-afirmação de uma identidade social, identidade pessoal ou até mesmo como uma maneira para mostrar a si mesmo que ele é capaz de controlar o seu próprio destino.
Some-se a isso a questão do preço. As drogas que fazem maior sucesso no Brasil ainda são a maconha e a cocaína, sendo esta última um excitante e a maconha um relaxante. Saindo o relaxante do esquema de tráfico, um novo relaxante deverá surgir.
E entre as drogas disponíveis para ocupar este lugar estão o Haxixe e a heroína. Provavelmente será o Haxixe, que tem o mesmo princípio ativo e origem da maconha, porém numa dose muito mais elevada de THC.
A heroína ainda está em expansão inicial no país. Ela vem do ópio proveniente do oriente (curiosamente, o ópio, matéria prima da heroína é a fonte de renda do Talibã que mete bala nos fumantes) o que dificulta e encarece sua entrada nas Américas.
Mas é possível que a liberação da maconha faça a “fila andar” aumentando a importação de heroína, que é um opiáceo poderosíssimo, conhecida como a mais aditiva e perigosa droga recreativa em uso disseminado, além do crack, que é um excitante à base de cocaína mal fabricada, impura e barata.

Quem vai se ferrar com isso é a classe baixa, que se verá cada vez mais cercada de drogas baratas de alto poder viciante. Hoje 60% do consumo da maconha está nas classes baixas. Mais de 80% dos meninos de rua afirmaram usar maconha regularmente.
Os defensores da liberação da maconha como o Deputado federal Fernando Gabeira usam como argumento que a liberação da droga tem uma finalidade de aumentar a liberdade do cidadão e que através das campanhas de conscientização e esclarecimento as pessoas teriam poder de optar se iriam querer usar drogas ou não. Legal. Eu também gostaria de viver num país livre, como uma Suíça, uma Holanda…

Para tal evoca-se corriqueiramente o caso da Holanda, que liberou o consumo das drogas.
É
, a Holanda é mesmo um país diferente. Pra começar, é uma monarquia constitucional com sistema parlamentar.
O IDH (índice de desenvolvimento humano) na Holanda é de 31,789.00, ou seja o décimo lugar no planeta. O IDH do Brasil está em sexagésimo nono lugar, abaixo da Líbia, Cuba e Costa Rica.
Lá o aborto é legalizado, bem como o casamento gay e a eutanásia também, o serviço militar é opcional, as prostitutas da Holanda pagam imposto e seus serviços são dedutíveis do imposto de renda, que vale até para bandido.
Mas a realidade brasileira é outra. O nosso país é absurdamente pobre culturalmente. É chocante a pobreza de educação e conscientização que se espalha na sociedade. E não só nas classes mais pobres, nas quais isso é mais evidente, mas também nas classes média e rica. Vejamos os exemplos de campanhas de conscientização. O Brasil tomou atitudes de repressão ao tabaco dignas de inveja de países mais desenvolvidos. Proibimos os comerciais, os eventos esportivos e tudo relacionando com a juventude e o cigarro. Colamos advertências nos rótulos e usamos fotos grotescas e chocantes de fetos com caras de jacaré e pessoas com expressão cadavérica. Curiosamente não vemos a indústria do cigarro reclamar, nem espernear.
Mesmo o governo sobretaxando o imposto sobre o cigarro em 70%. O resultado?
O consumo de cigarro cresceu, e o aumento se deu justamente entre os jovens.
Por isso eles não estão reclamando. No Brasil de hoje, nas condições sanitárias e de saúde pública que oferecemos, liberar qualquer coisa é loucura.
Os problemas de sáude:
O dano causado pelo cigarro comum é em grande parte responsável pelo índice absurdos de infartes, doenças associadas a baixa imunidade, malformação fetal e câncer de faringe,boca e pulmão. A maconha gerará além destes problemas inerentes ao hábito de respirar fumaça, também vários problemas, mas de natureza cerebral.
Alguns usuários da maconha usam como desculpa a alegação de que é uma erva natural que não pode fazer mal. O problema é que todos os venenos mais poderosos do planeta são de origem natural. O cigarro de tabaco possui 4720 substâncias, sendo estas 60 últimas, cancerígenas e perigosas. A maconha oferece 400 componentes, sendo alguns também cancerígenos, como o alcatrão.
A maconha vendida hoje pelo seu “dealer” no fundo da sala da faculdade é bem diferente da maconha que o Gabeira fumou antes de sequestrar o embaixador dos EUA nos anos 60.
Acontece que nos últimos 40 anos, a presença do THC, que é o componente chave da maconha aumentou muito nos baseados. Na época do Gabeira, um cigarro da erva continha 0,5% de THC. Atualmente, estudos americanos apontam para níveis de até 5%. Há ainda o skank, a supermaconha desenvolvida em laboratório, com 20% de THC, chamada de maconha 2.0.
Por causa dessas altas taxas de princípio ativo, a maconha hoje vicia mais e inflige danos ainda maiores ao organismo.
A maconha no Brasil chega pelo polígono da maconha vindo uma pequena parte do norte-nordeste e uma parte bem maior do Paraguai e desembarca na região consumidora (sudeste e sul do país) em caminhões. Como é necessário secar a maconha para vender e o exército apertou o cerco para a venda de substâncias que participam do processo de refino da cocaína como a Amônia, que também é usada para secar as folhas da maconha e potencializar o THC, os traficantes ficam com um problema nas mãos. Com pouca amônia disponível, (ela é usada para o refino da cocaína, que rende mais) o uso para secar a maconha vai para segundo plano. Para isso, os traficantes resolvem a parada comprando Xixi.
É que a urina humana contem uma dose de amônia e este xixi que fica decantando ao sol em tambores é usado para lavar e secar as folhas de maconha. Resumindo, fumar maconha de traficante é fumar indiretamente xixi.
Os traficantes paraguaios usam também cal, gasolina e outros aditivos químicos para ativar o THC, o que deixa a maconha altamente impura.

Mas e a liberação? Afeta realmente alguma coisa?
O que acontece com a maconha é que sua liberação afetará em maior parte o achincalhe e a extorção policial, uma vez que na nossa sociedade em qualquer show já vemos jovens fumando. O prazer de um policial que encontra maconha no bolso ou na carteira de um adolescente durante uma “dura” só se comparam ao sorriso amarelo e o tapinha nas costas do infeliz que morreu em cem merréis e o relógio para não ser fichado na PD.
Nas praias, universidades, festas, eles estão fumando. Muitas pessoas também plantam sua maconha e fumam em casa. A maconha está na musica, na mídia, em vários lugares. Na minha opinião, a liberação ou proibição serão atitudes semi-inócuas em vista do que ocorre hoje no Brasil. Era muito mais útil legislar sobre a educação e a razão pelo qual tantas crianças estão cheirando cola de sapateiro em plena luz do dia, na porta da Polícia Federal aqui no centro do Rio.

Eu acho que quem deseja fumar, fume. Mas se tiver que fumar, que plante a própria maconha ao invés de comprar com traficantes. Antes que me perguntem, eu nunca fumei nada. nem maconha nem cigarro. Sou muito cagão pra isso. Tenho medo de ser borderline, e se eu sonho coisas como esta aí no post de baixo, imagina se eu tenho um surto psicótico como ele seria!