Saturday, September 09, 2006

Arquivo X

Arquivo X - “CONFIDENCIAL “
Descobrindo o ESCTASY e o perfil dos seus usuários
Introdução A MDMA (3,4-metilenodioximetanfetamina), principal substância do ecstasy, foi sintetizada e patenteada em 1914, na Alemanha, pela empresa farmacêutica MERCK. O propósito dessa síntese é um tanto polêmico: segundo afirmam alguns estudos, a finalidade era a de desenvolver com a MDMA um moderador de apetite (BAPTISTA et al, 2002). Porém, outros autores apresentam uma segunda hipótese, não menos verossímil, que afirma que durante o processo de síntese de um medicamento anti-hemorrágico, os pesquisadores da MERCK chegaram, em uma etapa intermediária, à síntese da MDMA (HOLLAND, 2001). É unânime, no entanto, o fim que essa molécula teve anos depois: em função da sua baixa utilidade clínica e do advento da primeira guerra mundial, os estudos com essa substância foram abandonados temporariamente. Na década de 60, em meio à geração psicodélica, ao movimento hippie e a Guerra do Vietnã, o químico e farmacêutico americano Alexander Shulgin conduziu experimentos com a MDMA, trazendo a substância de volta à cena (SHULGIN & SHULGIN, 1991). Após entrar em contato com a MDMA, Shulgin sugeriu que essa substância pudesse ser utilizada como auxiliar psicoterapêutico. Na década de 70, surgiu um uso da droga como um adjunto do processo psicoterapêutico (PENTNEY, 2001). Psicoterapeutas americanos alegavam que a substância auxiliava na psicoterapia, favorecendo a derrubada de barreiras psicológicas, promovendo assim uma melhor comunicação e vínculo terapeuta-paciente, sem deixar o paciente vulnerável (MILROY, 1999). Contudo, tais observações foram levantadas tendo como base o empirismo, na medida em que não havia na época e não há nos dias de hoje estudos científicos contendo rigor metodológico que confirmem tais suspeitas (HOLLAND, 2001). Paralelo ao uso da MDMA dentro de um setting terapêutico cresceu nos EUA entre os jovens universitários o uso recreativo do ecstasy, nome dado à droga pelos seus usuários (MILROY, 1999). Temendo a popularização do uso da droga, a Drug Enforcement Agency decidiu, em 1985, incluir a MDMA na lista das substâncias proibidas, a chamada Schedule I, medida esta que logo foi seguida pela OMS (Organização Mundial de Saúde), a qual passou a considerar a MDMA como droga de restrição internacional (HOLLAND, 2001). Entre os anos de 1987 e 1988, surgiu em Ibiza, na Espanha, a cena musical e cultural que originou a cena eletrônica. Juntamente com esse novo conceito musical, reapareceu a MDMA. Da pequena ilha de Ibiza a droga seguiu para o Reino Unido e para o restante da Europa (MILROY, 1999). Na década de 90, chegaram as primeiras remessas consideráveis de ecstasy no Brasil, vindas para São Paulo diretas de Amsterdã (BAPTISTA et al, 2002). Desde então, o fenômeno tem sofrido crescente visibilidade, alertando as autoridades competentes. Dados epidemiológicos Os principais estudos epidemiológicos brasileiros não acusam o uso de ecstasy em nossa população (BAPTISTA et al, 2002). A carência de dados contrasta com indícios extra-oficiais (relatos informais de uso da droga, apreensões por parte da polícia e cobertura da mídia) de uma popularização do uso recreativo da droga em alguns segmentos de nossa sociedade, especialmente em grandes centros urbanos. Especula-se que, nos últimos anos, o consumo da droga tenha deixado de ser exclusivo das classes mais privilegiadas da sociedade, "caindo na boca" da classe média. Perfil de usuário e padrão de consumo da droga O preço de um comprimido de ecstasy varia de R$30 a R$50 (COSTA, 2004). Almeida (2000) e Baptista (2002) obtiveram amostras de usuários de ecstasy formadas por jovens adultos, na maioria de classe média e média alta, inseridos no mercado de trabalho e com boa escolaridade. Esses sujeitos eram quase que em sua totalidade poliusuários de drogas. O uso de ecstasy pode variar de um padrão de consumo indefinido, com a ingestão de 0,5 a 1,0 comprimido por noitada até a uso de 6 ou mais comprimidos a cada final de semana. O consumo dessa droga, inicialmente associado exclusivamente com a cena eletrônica, nos últimos anos sofreu ampliação e migrou para outros contextos fora das raves e clubes noturnos (BAPTISTA et al, 2002). Composição dos comprimidos de Ecstasy O ecstasy é comercializado na forma de comprimidos, em cápsulas ou em pó (COSTA, 2004). Diversos outros nomes populares também vêm sendo utilizados, como MDMA, E, bala e pastilha (COSTA, 2004). Lapachinske e colegas (2004) analisaram 25 lotes apreendidos como sendo ecstasy, entre os anos de 1996 e 2001. Desse total, 21 apresentaram em sua composição apenas MDMA. Nos demais lotes, foram encontrados somados à MDMA, metanfetamina, anfetamina, MDEA e cafeína. Esses dados confirmam que o ecstasy é uma droga de várias fórmulas. Farmacocinética da MDMA A 3,4 metilenodioximetanfetamina é um derivado anfetamínico, com estrutura química do tipo feniletilamina (COSTA, 2004). O uso recreativo dessa substância costuma ser feito com doses que variam entre 75-150 mg, podendo haver doses subseqüentes horas após o uso. Os efeitos dessa substância duram de 5 a 6 horas, em média (FERIGOLO et al, 1998). Logo após a ingestão da droga, a MDMA distribui-se amplamente pelos diversos tecidos do organismo, cruzando a barreira hemato-encefálica. A sua metabolização é principalmente hepática e sua eliminação ocorre através dos rins (FERIGOLO et al, 1998). Mecanismo de ação da MDMA A MDMA atua no SNC em diferentes sistemas de neurotransmissão, caracterizando um complexo espectro de atividades. As vias serotonérgicas, dopaminérgicas e noradrenérgicas sofrem ação dessa droga, mas a interação mais proeminente envolve o sistema serotonérgico (HOLLAND, 2001). Essa substância atua na via serotonérgica, estimulando a liberação e inibindo a recaptação de 5-HT. A MDMA age também no neurônio pós-sináptico como agonista dos receptores serotonérgicos 5-HT2a. Há também uma ação da droga sobre os receptores adrenérgicos 2. Ademais, a MDMA aumenta a liberação de dopamina na vesícula pós-sináptica do neurônio. (FERIGOLO et al, 1998). Efeitos físicos e psíquicos A MDMA desperta em seus usuários uma ampla gama de efeitos tais como: diminuição das defesas psicológicas e melhora das relações pessoais, sensação de bem-estar e melhora da percepção musical (ALMEIDA, 2000). A - Efeitos agudosOs seus efeitos mais marcantes são a sensação de melhora nas relações interpessoais, o desejo de se comunicar, melhora na percepção musical e um aumento na acuidade para cores. A MDMA promove também uma melhora na auto-estima do usuário, diminuição do apetite, dilatação da pupila, taquicardia, aumento da temperatura do corpo, bruxismo e um aumento na secreção do hormônio antidiurético (COSTA, 2004). B - Efeitos residuaisMuitos usuários relatam ter um episódio depressivo no período pós-uso do ecstasy (CURRAN & TRAVILL, 1997). Este efeito se deve ao esgotamento da função serotonérgica, que ocorre horas após o uso da droga. Fadiga e insônia também são efeitos relatados pelos usuários, os quais sofrem uma diminuição no tempo total de sono não-REM, com um destaque para uma perda, em média, de 37 minutos de sono da fase 02 (MORGAN, 2000). C - Principais complicações decorrentes do usoDentre os principais problemas desencadeados pelo uso da droga, estão o desencadeamento de doenças psiquiátricas como síndrome do pânico e depressão (CURRAN & TRAVILL, 1997). Somadas a estas psicopatologias, há importantes perdas de memória e atenção (CURRAN & TRAVILL, 1997). Essa ação é dose-dependente (MORGAN, 2000). Estudos experimentais mostram que o uso de ecstasy aumenta também a destruição de neurônios serotonérgicos por, possivelmente, uma ação oxidativa (HOLLAND, 2001). O uso agudo de ecstasy provoca aumento significativo da temperatura corpórea, que pode atingir até mais de 42 graus (hipertermia fulminante). Um outro quadro alarmante é o de intoxicação por água e, conseqüente, morte (MILROY, 1999). Ademais, a ingestão excessiva de água pode acarretar hiponatremia, queda nos níveis de cálcio e potássio presentes na corrente sangüínea (COSTA, 2004). O ecstasy causa disfunção no sistema imunológico, sendo, assim, comum entre os usuários habituais da droga o surgimento de gripe ou resistência imunológica baixa após a noitada (PACIFICI et al, 1999). Medidas preventivas Tendo em vista a crescente visibilidade no consumo de ecstasy, medidas preventivas se fazem necessárias a fim de dar cabo da questão.FALCK et al (2003) analisou uma amostra de 304 usuários de ecstasy da região de Ohio, Estados Unidos, naquilo que concerne às maneiras pelas quais eram obtidas informações sobre o ecstasy. As fontes mais importantes de informação sobre a MDMA citadas foram amigos e colegas, sites de ONGs na internet e os programas de televisão do tipo MTV. Com relação às fontes consideradas como sendo mais confiáveis quanto à qualidade da informação disponibilizada, novamente em primeiro lugar foram citados amigos e colegas; em seguida, a informação transmitida por programas de tratamento de problemas relacionadas ao uso de drogas; e por fim os dados obtidos com médicos. Esses dados sugerem que a informação transmitida por amigos e pares e pela internet possui grande impacto entre os usuários de ecstasy, sendo, desse modo, de crucial importância na implementação de programas preventivos ao uso dessa droga.

Pesquisa:

Next Generation Mission
Capelão Sergio Abreu
Deus é fiel


Fonte

Murilo Campos Battisti
Psicólogo. Formado pela Universidade de São Paulo (1999). Mestre em Ciências da Saúde pelo Departamento de Psicobiologia da Unifesp (2002). Pesquisador pelo Departamento de Psicobiologia da Unifesp. Experiência clínica como psicólogo pelo Programa de Orientação e Assistência ao Dependente (PROAD) da Unifesp (2004-2005), pela Clínica Maia (2004-2005) e pela Unidade de Dependência de Drogas (UDED) da Unifesp (1999).

No comments: